29 outubro, 2006

Brincando aos votos...


«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»
Já respondi a esta questão levantada em referendo... tal como eu, muitos portugueses assim o fizeram. No entanto, o governo prepara-se para fazer, novamente, a mesma pergunta, à população... E é de prever que, se voltar a ser chumbada (o que sinceramente eu duvido), dentro de 6 ou 7 anos voltar-se-á a fazê-la até se obter o resultado que uma demonstrada minoria deseja... Eu desisto já! Não ando aqui a brincar aos votos... Não vou andar a dar o meu parecer de meia-dúzia em meia-dúzia de anos quando o objectivo está claramente definido e acredito, agora, que o meu voto não fará diferença!
Neste momento, o que mais me incomoda nesta questão é o facto de a mulher ter hegemonia sobre a decisão da interrupção voluntária da gravidez (IVG)... Este facto levanta várias questões, mas a que eu gostava de destacar era a da igualdade de direitos da paternidade. Já não vivemos (nós humanos) numa simples concorrência sexual para a sobrevivência por meio da Selecção Natural e Selecção Sexual... Já não precisamos unicamente de mecanismos biológicos explicados por, por exemplo, competição de esperma, uma vez que a nossa melhor estratégia está na nossa mente. Quero chegar unicamente ao ponto em que a igualdade de direitos de paternidade deve ser coerente com a obrigação da assunção da mesma. Isto é: se um homem é obrigado a assumir uma paternidade que ele não deseja porque a mulher decidiu não interromper a gravidez, então, no mesmo critério igualitário, a mulher deveria ser obrigada a assumir a criança se o homem decidir tê-la. Neste sentido, e na situação da provável despenalização, o pai da criança deverá ter de ser consultado antes da IVG por parte da mulher, podendo ela vir a ser penalizada em caso contrário... Na minha opinião, depois de fecundado, o filho não é só dela!
Penso que o país já está preparado para aceitar que as suas mulheres procedam à IVG nos termos propostos, no entanto há várias questões que fundamentam os mais cépticos.
Eu não votarei outra vez e verei inerte a aprovação de tamanho atentado à desigualdade do direito à paternidade...
Deixo-vos em reflexão!...

5 comentários:

Orquídea disse...

Não podia estar mais de acordo. Partilho da mesma opinião.

Anónimo disse...

Concordo contigo..penso que andam a “brincar aos votos”...
Em primeiro lugar, considero que a pergunta é ridiculamente complexa, devendo explicar-se às pessoas o que é a despenalização e a descriminalização..Quando uma conduta que constitui crime deixa de o ser, estamos perante a descriminalização. Neste caso, porém, o que está em causa é a despenalização, ou seja, a conduta continua a constituir crime mas, quando ocorra em certas condições ou circunstâncias previstas na lei, essa conduta não será punida. Ora, o aborto é crime e continua a ser crime. Refiro também que o nosso Código Penal prevê três tipos legais de crime, designadamente, o aborto, o aborto agravado e a IVG. Eu sou contra o aborto porque, apesar de todas as teorias sobre o começo da vida e se é feto, se é embrião, para mim, não deixa de ser uma vida humana e, acima de tudo, defendo o direito à vida, um bem jurídico fundamental. Mas mais que isso, sou contra o aborto clandestino pois, sejamos realistas, o aborto sempre existiu e vai continuar a existir, por isso, não seria melhor, que a mulher pudesse fazê-lo em condições de segurança e higiene, em estabelecimentos devidamente autorizados e por profissionais qualificados em vez de recorrer a clínicas de 5ª categoria e ficar nas mãos de pseudoprofissionais de saúde e muitas vezes verdadeiros “carniceiros”??? O que está aqui em causa é saúde física, psíquica e emocional da mulher. Deveremos obrigar alguém a manter uma gravidez indesejada com todas as alterações físícas e psíquicas que acarreta??? Penso que já deverá ser suficientemente traumatizante para a mulher e que é uma decisão bastante difícil e marcante!!! Será que ainda a devemos rotular como criminosa e sentá-la no banco dos réus??? Talvez a solução fosse o Estado financiar a prevenção, nomeadamente, promover o acesso à educação sexual, o acesso ao planeamento familiar, o acesso aos métodos contraceptivos, principalmente nas famílias mais carenciadas...cada vez mais jovens estão a usar a pílula do dia seguinte que é uma pílula abortiva como método anticoncepcional regular, com todos os seus efeitos prejudiciais..Em vez de se julgar a mulher, dever-se-ía assegurar o seu direito à saúde.. à sua saúde sexual e reprodutiva.

Beijinhos

O Último Padrinho disse...

Agradeço todos os comentários ...Uma especial atenção para a opinião, num esforçado complemento elucidativo, da susana...: -Obrigado!
:)
-Que tal começares um blog?! Fica lançado o desafio!
Beijinhos também...

Orquídea disse...

E ainda...
Já estava de acordo com o último Padrinho. Agora, igualmente, não podia estar mais de acordo com a Suzana. Como mulher, comprendo bem a tua posição perante uma questão tão complexa, como é a do aborto. Constitui um verdadeiro dilema. Eu sou contra o aborto, acredito que jamais faria um. No entanto, quando pondero acerca de algumas questões e alguns aspectos desta questão acabo por chegara à conclusão que, de facto, existem algumas situações em deveria ser permitido e em que se deveria garantir um apoio, não só, mas também, psicológico a quem tem de passar por semelhante situação.
Eu, apesar de ser contra o aborto, numa situação extrema, como seja uma violação ou uma má formação do fecto (que fosse agravar toda essa nova vida) possivelmente iria obtar, por muito egoísta que fosse, por um aborto.
Assim sendo, despenalizem, legalizem, fassam o que quiserem, mesmo até continuar a brincar aos votos, mas não permitam que se continue a brincar com vidas, estejam elas em formação ou a viver um drama e um trauma para toda a vida.

Para terminar, deixo aqui um clichê:
"Quem não se sente, não é filho de boa gente".

Orquídea disse...

Dia 11 de Fevereiro... lá vamos nós! Vamos votar! Exercer um direito civico para, depois, poder-mos criticar.
Como será que vai correr a "brincadeira" desta vez?